Friday, March 31, 2006

Buda




"Projetistas fazem canais, arqueiros airam flechas, artífices modelam a madeira e o barro,

homem sábio
modela-se a si mesmo".

( Buda Gautama Sakyamuni )

Thursday, March 30, 2006

Amigo, simplesmente amigo ...






O VALOR DE UMA AMIZADE.
Um filho pergunta à mãe:
- Mãe, posso ir ao hospital ver meu amigo?
- Ele está doente!
- Claro, mas o que ele tem?
O filho, com a cabeça baixa, diz:
- Tumor no cérebro.
A mãe, furiosa, diz:
- E você quer ir lá para quê? Vê-lo morrer?
O filho lhe dá as costas e vai...
Horas depois ele volta vermelho de tanto chorar, dizendo:
- Aí mãe, foi tão horrível, ele morreu na minha frente!
A mãe, com raiva:
- E agora?! Tá feliz?! Valeu a pena ter visto aquela cena?!
Uma última lágrima cai de seus olhos e, acompanhado de um sorriso, ele diz:
- Muito, pois cheguei a tempo de vê-lo sorrir e dizer:
EU TINHA CERTEZA QUE VOCÊ VINHA!

Moral da história:
A amizade não se resume só em horas boas, alegria e festa.
Amigo é para todas as horas, boas ou ruins, tristes ou alegres!

CONSERVEM SEUS AMIGOS!

Saudade, saudade ...

Saudade
Saudade...
Exclusividade lusa...
Musical palavra no Brasil e em Negra África ...
Intraduzível, concreta, abstrata,
Imensa dor de não poder tocar,
Latina, latina por essência, definição...
Esperança do porvir,
Vontade de chorar,
Chorar o que já foi, O que poderia ter sido...
Outrora, de outra forma,
Uma forma mais densa,
Intensa,
Sempre somos felizes sem o saber,
Se o soubéssemos talvez cálculo já o fosse,
E a vida,
Milagre,
Recusa-se
À Mera deliberação, ao frio cálculo,
Pede o sangue, a dor, a angústia,
A intensidade do momento presente,
A doação incondicional de nós mesmos,
A algo do que nós infinitamente maior
Pede a transcendência,
Mesmo na mais concreta imanência,
Nada é pétreo, tudo é potência,
Latência,
De um dia via a ser,
Assim espero, saudoso,
No âmago do intenso e contraditório ato
De viver
Voltar a ver-te

Luciano Corsi

Wednesday, March 29, 2006

Lula, 1980 ...



ZIRALDO

Renda-se, viva !

Renda-se como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece, como eu mergulhei.
Pergunte, sem querer, a resposta, como estou perguntando.
Não se preocupe em "entender".
Viver ultrapassa todo o entendimento.

Clarice Lispector

Monday, March 27, 2006

Noite Pós Moderna

Noite pós moderna ...
Pensamento fragmentário, turbilhão de informações pseudo-cartesianas,
cientificismo mercadológico,
mercado de emoções... desalento
nas ruas, milhoes de estranhos compartilham o que nao virou produto...
alienação plena,
poucos, de certo, se dão conta, em que isso tudo resulta, neo-estigmimatizados, neo-nerds ...
implacáveis pensadores buscam na balada do momento refúgio, acalanto,
desilusões efêmeras, tudo o que é sólido se desmancha no ar...
novos cosméticos dietéticos e obesidades, novos pânicos,
neuras das megalópoles;
escritórios frenéticos buscam as novas receitas do sucesso,
como inseri-las nas tenras mentes que se adaptam, frenéticas,
às novas modas alienigenas,
o ser interior se esvai, nele se integram milhoes de signos,
simbologias aderentes, tudo se mescla, já não sei quem sou ...
misturas improváveis tornam-se ecletismo, nada se compreende,
TUDO SE CONSOME ...
digestão complexa, mea-culpas, o dia volta,
Readaptação ao novo dia, nova rotina,
mesmo destino, aguarda-se a nova Noite, inventam-se revolucionárias fórmulas,
sistemas inteligentes de trocas eletrônicas de dados,
sutis formas de se enclausurar, servilismo inconsciente,não resta alternativa,
mas, cade ademocracia?
o que é mesmo liberdade ?
abstrações, utopias,
MENTIRAS
repetidas à milésia potência,
aos poucos,
novas verdades
trabalhemos, inovemos, acidentes de percurso incluem,
é forçoso,
a morte de milhoes, mas quem sao eles?
meros acidentes de percurso,
erros de cálculo,
mas veja, novas roupas, arquiteturas, suprem nossa carência,
comercio sedativo é a nova morfina, absorve o imenso impacto do viôlento noticiário-escandalo;
mas calma, já é quinta, nova balada, farmácia ao lado,
mais farmácias que baladas...
vamos melhorar, vamos encarar mais essa, a vida é longa,
a vida é breve,
a vida é preciosa,
a vida é um objeto, novo-insumo das mega-corporações,
de todos, o mais flexível, a mercadoria que cria
valores
novas mercadorias,
vida sólida, se desmancha,
no ar,
privatizado,
neo liberal,
efêmero,
na noite,
(pós)
moderna



Luciano Corsi

Wednesday, March 22, 2006

Próximo passo - trabalho escravo ...

Pensei em escrever um texto, mas serei breve...

Com sua sede infinita, o próximo passo da capital é o trabalho escravo...

Nota:Não há uma correlação entre abrandamento da legislação trabalhista e a criação de novos postos de trabalho, principalmente em países pobres, o grande exemplo é a Argentina. Evidentemente os EUA são uma excessão, pois que sugam poupança do resto do mundo, quase USD 1,5 trilhoes por ano, e por mais que se cresça a demanda por trabalho lá os salários se mantém estáveis conforme confiáveis estatísticas nao veiculadas na revista veja - vide o livro Miséria à Americana, ed. Record - nos sites de grandes livrarias.

A mão invisível do mercado de Adam Smith só funciona para beneficiar os gigantes, meu caro, por isso que se inventou esse conceito, tão enganador quão inútil.

Na minha modesta opinião o que gera empregos são INVESTIMENTOS, porém estes, no Brasil-otário, estão canalizados ao mercado de capitais cassino... Nós pagamos a maior taxa de juros real do planeta, é retorno alto, líquido e certo, enquanto que investir em indústrias e serviços, além de dar trabalho, envolve riscos, a taxa interna de retorno é menor, etc.

Os empresários Brasileiros leitores de VC SA e Exame vão aproveitar a deixa para aumentar o lucro; se até a Nestle AFANA 20 gramas de biscoitos por pacote para lucrar mais no montante (uma empresa Suíça), o que se dirá da nata empresarial tupiniquim...Procurem saber o que a Nestle fez na Indonésia e outros países pobres, com a alimentação de inocentes criancinhas e se terá uma idéia da sua volúpia, além de outras gigantes que vendem a imagem de boasinhas, com recursos de propaganda tão altos que dariam pra pagar até o 18 salário e ainda ter lucros altos... não adianta procurar nas revistas acima...

Mais uma arbitrariedade - as leis sao feitas pelos Lobbies poderosos - que se será vista como natural, mesmo pelos mais frontalmente prejudicados. Próximos passos: Cortar Férias, FGTS, Salário normal, será a era do trabalho voluntário ... trabalhadores dóceis, capital infurecido ....

**TODO VALOR PROVÉM DO TRABALHO** // **DESPERTA AMÉRICA DA SUL**


----- Original Message -----
From: Katia Regina
To: Luciano Corsi Facanha da Rocha ; Rafael Magalhaes ; Sonia Cristina Serrat ; Jocilene Maria Ribeiro da Silva ; Priscila Avelino Fortes ; Camila Marinelli ; Nathalie Franco Khouri
Sent: Tuesday, March 21, 2006 3:36 PM
Subject: Fw: APROVADO O FIM DO 13º SALÁRIO


Luciano

aguardamos anciosamente os seus comentários...


bjká

----- Original Message -----
From: Samuca Perego
To: Aline Cristina ; Aline Bidu ; Amanda Beatriz da Cruz ; Anderson Ferraz ; Bruna ; carla_silva@procomp.com.br ; Daniel Lourenço Lopes ; Daniel Chagas ; everaldo@ondisc.com.br ; fernandamunim@yahoo.com.br ; Filipe de Paula ; Karin Michele Amaral ; katia.regina@kuehne-nagel.com ; Kelly Medeiros da Silva ; Laercio Fernao ; Laura ; Liliane ; Luana Alice Bilck ; silva_luis@pop.com.br ; joana.perego@uol.com.br ; Maira ; Mariel Fernao ; mizael.perego@bol.com.br ; joel.perego@uol.com.br ; Pam ; dp2@itororo.com.br ; priscila.silva@cpm.com.br ; Raony Pontes ; Reginaldo (vila) ; renato_asilva@ig.com.br ; Stephane Lima Pereira ; Tatiana Souza ; Carolina Silva
Sent: Tuesday, March 21, 2006 2:58 PM
Subject: APROVADO O FIM DO 13º SALÁRIO


APROVADO O FIM DO 13º SALÁRIO


REPASSANDO...


Fim do 13º já foi aprovado na Câmara!
Enquanto a gente se distrai com estas CPIs o Congresso continua votando outros assuntos de nosso interesse e a gente nem perceb... vejam essa:


Fim do 13º já foi aprovado na Câmara (PFL, PMDB, PPB, PPS, PSDB

Para conhecimento, O fim do 13º salário já foi aprovado na Câmara para alteração do art. 618 da CLT.
Já foi aprovado na Câmara e encaminhado para o Senado.
Provavelmente será votado após as eleições, é claro...
A maioria dos deputados federais que estão neste momento tentando aprovar no Senado o Fim do 13º salário, inclusive da Licença Maternidade e Férias (pagas em 10 vezes) são do PFL e PSDB.
As próprias mordomias e as vergonhosas ajudas de custo de todo tipo que recebem, eles não cortam.
Conheça o nome dos políticos que votaram a favor deste Projeto em todo Brasil.



Por favor, repassem para o maior número de pessoas possíveis,
afinal eles são candidatos fortes nas próximas eleições!!!!!



1- INOCÊNCIO OLIVEIRA-PFL

2- JOEL DE HOLLANDA - PFL
3 - JOSÉ MENDONÇA BEZERRA-PFL
4- OSVALDO COELHO - PFL
5- ARMANDO MONTEIRO-PMDB
6- SALATIEL CARVALHO-PMDB
7- PEDRO CORRÊA - PPB
8- RICARDO FIÚZA-PPB
9 -SEVERINO CAVALCANTE - PPB
10- CLEMENTINO COELHO - PPS
11- CARLOS BATATA-PSDB
12- JOÃO COLAÇO - PSDB
13- JOSÉ MÙCIO MONTEIRO-PSDB


DIVULGUEM !!!



Samuel Amaral Perego
samuelperego@uol.com.br
skype > peregao

Monday, March 20, 2006

EUA, discurso x realpolitik (leiam o texto também)




Política Externa dos Estados Unidos
Irã x Índia

“Não enfrentamos nenhum desafio maior de um único país do que o Irã, cujas políticas estão direcionadas a desenvolver um Oriente Médio 180º diferente do Oriente Médio que gostaríamos de ver desenvolvido”.
Condolezza Rice.

O Processo histórico nos demonstra claramente que o poder é a maior das tentações humanas, a que mais intensamente prova o caráter de um ser humano, de um grupo, de um país, e, no caso em tela, do mais poderoso império da história, e o único nos dias de hoje, o império estadudinense.

Além do evidente abuso de poder perpretado pelos EUA desde o pós-guerra, parece ser tão grande o seu atual poder, e tão nula a crítica a ele, que ele se vê acometido de distração no mais alto nível de sua diplomacia (guerreira, por paradoxal que soe). Ao declarar explicitamente que quer ver uma política de desenvolvimento para o Oriente Médio 180º diferente do que se verifica, a secretária de estado americana poderia simplesmente dizer, não podemos permitir que a colônia do Irã tenha soberania. Não toleramos a liberdade alheia. É a abismal hipocrisia que separa o discurso propagandístico dos EUA como baluarte da liberdade e a sua realpolitik.

Quão maior é a contradição contida na declaração acima, quando verificamos que quase simultaneamente a ela a conservadoríssima, mas cerebral revista britânica “The Economist” faz sarcástica e demolidora crítica sobre o acordo nuclear entre os Estados Unidos e a Índia, assinado semana passada, pelo presidente americano George W. Bush, cuja principal característica consiste no generoso fornecimento de tecnologia nuclear americana à Índia.

A mencionada revista, insuspeita na coragem da crítica, posto que oriundo no mais iminente satélite Yanquee, exorta o governo Tony Blair a barrar o projeto no conselho de segurança da Onu, dada a extrema temeridade geopolítica do mesmo ao simultaneamente desrespeitar frontalmente o acordo de não proliferação nuclear e atiçar o complexo conflito Índia – Paquistão. Além da delicada proximidade da China, futura superpotência mundial.

Ao nos depararmos com esse estado de coisas, certos questionamentos tornam-se inevitáveis:

Teria o formidável poder militar americano tornado sua política exterior tão ditatorial quanto burra? Apesar de a guerra fria ter acabado há 15 anos, os arsenais nucleares nas mãos de possíveis adversários continuam quase intactos, logo um conflito nuclear continua significando a extinção do animal homem.

Com tamanha arrogância, estaria a citada secretária de Estado chamando-nos todos, não americanos e americanos inteligentes de passivos imbecis, molóides factóides, replicantes consumistas, que consideramos naturais as mais injustas arbitrariedades e desmandos assassinos oriundos de um império sem adversário (militar) à sua altura?

Ou pensaria o alto nível da política externa americana que o mundo lhe deve – em troca das quinquilharias de plástico a que aludem como alto nível de consumo, de qualidade crescentemente sofrível, mas destruição ambiental inegável – o financiamento de seus brutais déficits comercial (USD 724 bilhões) e fiscal (USD 500 bilhões), montando a quase USD 1,5 trilhões em 2005? Well, toda essa grana destina-se a quê? Para bancar a nossa civilização pós-moderna, oras! Como? Através da guerra do Iraque, do programa óleo por comida (olha que democrático), patrocinando ditaduras mundo afora, que fariam Sadam Russein um criminoso menor, além de possíveis guerras futuras contra os países do eixo do mal e de investimentos da ordem de USD 500 bilhões ao ano em armas, cada vez mais letais e invencíveis.

Diante de tão tenebroso quadro, em que até se pagam supostos intelectuais como Francis Fukuyama (ok, ele é Japonês) para alardear o fim da história enquanto total falta de alternativas ao neo liberalismo, qual seria o nosso papel, individual e coletivo, na luta contra o insaciável dragão a que chamamos de capital, na sua versão ultra-radical na qual a maximização da acumulação justifica a carnificina que se vê no mundo excluído?

Será que realmente precisamos de todo esse oceano de mercadorias – de benefícios humanos questionáveis – emulado por um comportamento de extremo individualismo, que por sua vez justifica toda a ordem de exploração do trabalho dos mais fracos?

Outrora se fundava o capitalismo no rigor e austeridade da ética protestante, agora a ordem do dia é fatura bilhões e bilhões em uma jogada – no mais das vezes auxiliada por informações privilegiadas – no mercado de ações da economia-cassino; na publicidade propaganda mass media que quer nos incutir necessidades de consumo que não temos.

O neo-liberalismo quer assim fundar a nova ordem mundial de meia dúzia de mega-ricos que domina o mundo, sem muito esforço. E como se produz uma crescentemente colossal quantidade de mercadorias? Ora, isso se explica pelo trabalho sujo, oriundo da massa pauperizada dos países excluídos, com suas jornadas de trabalho de mais de 12 horas. E mesmo se concentrando tanto o trabalho sujo assim, como se vê tanto desemprego? Os crescentes investimentos em capital industrial que poupam trabalho, mas consomem quantidades brutais de energia poluidora e resíduos assassinos, além, evidentemente, da deliberada criação de crescentes exércitos de reserva de desempregados para colocar os salários em patamares falimentares e mesmo assim relegar à mendincância quem não está empregado. Quem está desempregado se vira como pode, alguns vão para o crime, que se robustece e se organiza.

Evidentemente que a corrupção no Brasil drena escacíssimos recursos que poderiam minorar a pobreza, mas como se explica que boa parte do agro negócio nacional se esforce cada vez mais à exportação quando a população interna passa fome no maior celeiro de alimento do mundo?

Teria sido o Holocausto um mero crime de guerra Alemão, ou seria ele uma possibilidade da nossa pós modernidade, ou mesmo uma realidade que nos passa despercebida?

Thursday, March 09, 2006

Privatização da Amazônia, até tu Mercadante ??



*******

Privatizado

"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário. E agora não contente querem
privatizar o conhecimento, a sabedoria,
o pensamento, que só à humanidade pertence."

*******

Em 1995, o Brasil implantou um sistema de Vigilãncia da Amazônia chamado SIVAM, de uma empresa americana chamada Rayeton se nao me engano. Muito bem, pagou-se bilhoes de dólares para um sistema monitorado por satélites obsoletos e computadores - creia-me - 386 ... Uma farra com os recursos públicos que redundou em tanta vigilância que o próprio texto abaixo, provavelmente de um veículo conservador, informa que 75% das áreas ocupadas são fruto de invasões irregulares.

Na Amazônia, além de exploração irracional da madeira, emprega-se, em 2006, trabalho escravo, assassinatos por causa de dívidas de cantinas - pacotes de biscoitos, macarrão, etc - tudo em nome do progresso.

Mas o filão mais apetitoso é a biodiversidade ... Ah, para a produção de remédios - depois da indústria (ilícita de drogas entorpecentes) e do petróleo, é a indústria farmaceutica a mais lucrativa do mundo; produzindo remédios que no mais das vezes mantém as doenças com algum bem estar - pela lógica capitalista eles tem que manter o nível de vendas, mesmo em um mercado saturado. Tal indústria sabe, muito bem, que o que engendra a maioria das doenças no nosso mundo pós moderno é exatamente o modo de vida das pessoas - excesso de trabalho, stress, materialismo extremo, consumismo, destruição do meio ambiente, alienação total do ser Humano. Parafraseando KArl Marx, o império do fetiche das mercadorias e do dinheiro enquanto valor em si mesmo e nao apenas uma expressão dele - financeirização da economia, a economia de cassino. O individualismo extremo, materialismo vulgar, e o estado de coisas acima, apesar de auto destrutivo e péssimo pro mundo, é extremamente lucrativo à industria farmaceutica, petrolífera, e muito mais à de entorpecentes.

Essa lei, meu caro, só vai legitimar o que há décadas se pratica - a exploração total de uma pseudo nação, uma colônia chamada Brasil. É, na verdade, um tapa na cara das pessoas que pensam com humanismo, que querem um mundo melhor, com mais qualidade ambiental, com mais paz, sem exploração, etc.

Um caso muito ilustrativo do que falo vem a ser a nossa Mata Atlântica. Belíssima, uma das mais belas do mundo, foi, no século XX, destruída em 95%, ao longo de toda a nossa extensão litorânea.

Os capitalistas do mundo tem que ter em mente que estamos todos no mesmo barco, e que o que rege o mundo é a lei de interdependência, todos dependemos uns dos outros, e que existem coisas infinitamente mais valiosas do que mansões, carros importados, roupas de grife e entretenimento via televisiva... por exemplo, milhares de seres humanos.

Com relação à Amazônia, vale lembrar que muito provavelmente que possui, nao sei o termo exato, imensos campos petrolíferos, dada a sua proximidade da Venezuela e Equador. O que se fez e faz hoje do Equador, a exploração total, um genocídio, depois me diga se Hugo Chavez nao tem um pouco de razao para a sua política de protesto.

********
"O primeiro homem que inventou de cercar uma parcela de terra e dizer 'isto é meu', e encontrou gente suficientemente ingênua para acreditar nisso, foi o autêntico fundador da sociedade civil. De quantos crimes, guerras, assassínios, desgraças e horrores teria livrado a humanidade se aquele, arrancando as cercas, tivesse gritado: Não, impostor"
Jean-Jacques Rousseau
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----- Original Message -----
From: Marcelo Brunella Aziz Jorge
To: Luciano Corsi
Sent: Wednesday, March 08, 2006 10:10 PM
Subject: Amazonia






Olha o que o Senado e o Congreso Aprovaram ,MAIS UM PROGRESSO PARA OS AMERICANOS TOMAREM A AMAZONIA E UM REGRESSO AO POVO BRASILEIRO Senado aprova projeto de concessão de florestas


Gilse Guedes




Brasília - Depois de dez meses de disputas políticas no Senado, os parlamentares aprovaram, nesta quarta-feira, por 39 votos contra 14 e com uma abstenção, o projeto de lei que permite a exploração econômica de áreas de florestas nativas por meio de concessão pública. Para garantir a votação, os governistas tiveram de ceder e apoiar as alterações propostas pelo líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), o que fará com que a proposta volte à Câmara para ser submetida a nova apreciação.

A intenção do governo é a de que 13 milhões de hectares - o equivalente a 3% da Amazônia - sejam explorados nos próximos dez anos por meio de concessão pública.

O projeto foi aprovado sob protesto de vários parlamentares, unindo a senadora Heloísa Helena (PSol-AL) e os peemedebistas Gilberto Mestrinho (AM) e Pedro Simon (RS). Na galeria do plenário do Senado, um ambientalista fez uma manifestação solitária. Exibindo faixa com os dizeres "Não à Privatização das Florestas", o representante da Associação de Geólogos de Brasília Múcio Ribeiro manifestou-se contrário ao projeto. Foi retirado da galeria pela segurança do Senado.

"É a apropriação privada do solo e do subsolo da Amazônia", reagiu Heloísa Helena. Para ela, o projeto representa a privatização das áreas de floresta. "Como podem fazer essa monstruosidade? Eu não entendo como os apaixonados podem estar tão tranqüilos", discursou Simon. Segundo o senador gaúcho, será difícil fiscalizar a execução dos projetos.

Para Gilberto Mestrinho, a medida "engessa a Amazônia". "Esse projeto de engessamento da Amazônia não é de hoje. Primeiro cercaram a nossa floresta com as reservas indígenas. Agora, a engessam com as concessões. Querem dominar a floresta. Se não fiscalizam as reservas florestais, como é que vão fiscalizar as concessões?", questionou Mestrinho.


Defesa
Na ala dos defensores do projeto, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou que a lei permitirá gerar renda e desenvolvimento na Amazônia. "É um dos mais importantes projetos que beneficiarão as comunidades da Amazônia", disse. Um dos principais adversários do governo, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), apoiou a iniciativa do MMA. Ele disse apoiar a proposta por considerar que as regras previstas vão organizar a exploração florestal. "Eu prefiro a organização da pressão sobre a floresta à presença desorganizada. Eu quero acreditar que o projeto investe contra a grilagem", declarou Virgílio.

Relator do projeto e autor das emendas, o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), defendeu a aprovação. Segundo ele, suas emendas melhoram o texto. A primeira emenda aprovada é a que estabelece que o Senado decidirá sobre os pedidos de concessão de áreas com mais de 2.500 hectares. A segunda determina que os diretores do Serviço Florestal Brasileiro, órgão que vai gerir as concessões públicas, serão sabatinados pelo Senado, e a terceira estabelece que o comitê gestor, formado, no projeto original, apenas por técnicos do MMA, terá representantes de mais seis ministérios, entre eles o de Ciência e Tecnologia.

A proposta regulamenta a gestão de florestas em áreas públicas, cria o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal. A lei criará três tipos de exploração da floresta. O primeiro são as unidades de conservação para exploração sustentável da floresta.

Haverá ainda a destinação de áreas para uso de comunidades tradicionais, como reservas extrativistas ou áreas de remanescentes de quilombos, e os projetos de desenvolvimento sustentável - áreas de assentamentos rurais, mas com atividades que não afetam a floresta. O outro tipo de exploração é justamente pela concessão de áreas para exploração por empresas privadas por meio de licitação pública. Será permitida a exploração de produtos madeireiros e não madeireiros, sendo vedada a extração de recursos minerais.

Segundo o MMA, empresas e populações nativas poderão disputar a concessão de áreas de floresta. Somente empresas e organizações constituídas no Brasil poderão participar das licitações e nenhum vencedor poderá deter mais de duas concessões por lote. O projeto prevê prazo de concessão de 40 anos e a definição de um mecanismo de avaliação dos projetos a cada três anos. Se eles não estiverem dentro dos parâmetros determinados, as empresas podem perder a concessão.

De acordo com o MMA, regulamentar a exploração econômica na Amazônia de forma sustentável é uma forma eficaz de inibir as ocupações ilegais em terras públicas. No caso da Amazônia, as invasões irregulares chegam a 75% da área total da floresta.
















Brasília - Depois de dez meses de disputas políticas no Senado, os parlamentares aprovaram, nesta quarta-feira, por 39 votos contra 14 e com uma abstenção, o projeto de lei que permite a exploração econômica de áreas de florestas nativas por meio de concessão pública. Para garantir a votação, os governistas tiveram de ceder e apoiar as alterações propostas pelo líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), o que fará com que a proposta volte à Câmara para ser submetida a nova apreciação.

A intenção do governo é a de que 13 milhões de hectares - o equivalente a 3% da Amazônia - sejam explorados nos próximos dez anos por meio de concessão pública.

O projeto foi aprovado sob protesto de vários parlamentares, unindo a senadora Heloísa Helena (PSol-AL) e os peemedebistas Gilberto Mestrinho (AM) e Pedro Simon (RS). Na galeria do plenário do Senado, um ambientalista fez uma manifestação solitária. Exibindo faixa com os dizeres "Não à Privatização das Florestas", o representante da Associação de Geólogos de Brasília Múcio Ribeiro manifestou-se contrário ao projeto. Foi retirado da galeria pela segurança do Senado.

"É a apropriação privada do solo e do subsolo da Amazônia", reagiu Heloísa Helena. Para ela, o projeto representa a privatização das áreas de floresta. "Como podem fazer essa monstruosidade? Eu não entendo como os apaixonados podem estar tão tranqüilos", discursou Simon. Segundo o senador gaúcho, será difícil fiscalizar a execução dos projetos.

Para Gilberto Mestrinho, a medida "engessa a Amazônia". "Esse projeto de engessamento da Amazônia não é de hoje. Primeiro cercaram a nossa floresta com as reservas indígenas. Agora, a engessam com as concessões. Querem dominar a floresta. Se não fiscalizam as reservas florestais, como é que vão fiscalizar as concessões?", questionou Mestrinho.


Defesa
Na ala dos defensores do projeto, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou que a lei permitirá gerar renda e desenvolvimento na Amazônia. "É um dos mais importantes projetos que beneficiarão as comunidades da Amazônia", disse. Um dos principais adversários do governo, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), apoiou a iniciativa do MMA. Ele disse apoiar a proposta por considerar que as regras previstas vão organizar a exploração florestal. "Eu prefiro a organização da pressão sobre a floresta à presença desorganizada. Eu quero acreditar que o projeto investe contra a grilagem", declarou Virgílio.

Relator do projeto e autor das emendas, o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), defendeu a aprovação. Segundo ele, suas emendas melhoram o texto. A primeira emenda aprovada é a que estabelece que o Senado decidirá sobre os pedidos de concessão de áreas com mais de 2.500 hectares. A segunda determina que os diretores do Serviço Florestal Brasileiro, órgão que vai gerir as concessões públicas, serão sabatinados pelo Senado, e a terceira estabelece que o comitê gestor, formado, no projeto original, apenas por técnicos do MMA, terá representantes de mais seis ministérios, entre eles o de Ciência e Tecnologia.

A proposta regulamenta a gestão de florestas em áreas públicas, cria o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal. A lei criará três tipos de exploração da floresta. O primeiro são as unidades de conservação para exploração sustentável da floresta.

Haverá ainda a destinação de áreas para uso de comunidades tradicionais, como reservas extrativistas ou áreas de remanescentes de quilombos, e os projetos de desenvolvimento sustentável - áreas de assentamentos rurais, mas com atividades que não afetam a floresta. O outro tipo de exploração é justamente pela concessão de áreas para exploração por empresas privadas por meio de licitação pública. Será permitida a exploração de produtos madeireiros e não madeireiros, sendo vedada a extração de recursos minerais.

Segundo o MMA, empresas e populações nativas poderão disputar a concessão de áreas de floresta. Somente empresas e organizações constituídas no Brasil poderão participar das licitações e nenhum vencedor poderá deter mais de duas concessões por lote. O projeto prevê prazo de concessão de 40 anos e a definição de um mecanismo de avaliação dos projetos a cada três anos. Se eles não estiverem dentro dos parâmetros determinados, as empresas podem perder a concessão.

De acordo com o MMA, regulamentar a exploração econômica na Amazônia de forma sustentável é uma forma eficaz de inibir as ocupações ilegais em terras públicas. No caso da Amazônia, as invasões irregulares chegam a 75% da área total da floresta.

Tuesday, March 07, 2006

Ae Mário de Andrade !








Moça linda bem tratada


Moça linda bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.


Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta:
Um coió.


Mulher gordaça, filó,
De ouro por todos os poros
Burra como uma porta:
Paciência...


Plutocrata sem consciência,
Nada porta, terremoto
Que a porta de pobre arromba:
Uma bomba.

Rosa, minha querida !



O socialismo não é, propriamente, um problema de comer com faca e garfo, mas um movimento de cultura, uma grande e poderosa concepção do mundo.

Carta de Rosa Luxemburgo a Franz Mehring (Fevereiro/1916)

Friday, March 03, 2006

A esquerda morreu ?

No texto abaixo, embora em concisas linhas, Hélio Schwartsman, ao contrário do tão apregoado estilo sensacionalista / pós moderno de se decretar o fim da história, expediente que, diga-se de passagem, tão bem serve à voracidade do capital, delineia bons raciocínios e bases para se (re)pensar o que se convencionou chamar de esquerda, mas que nos dias de hoje vem a ser o socialismo.

O autor também tece comentários sobre a suposta má natureza humana, de barbariedades perpretadas pelos extremos de direita e esquerda - nazismo e comunismo, e, também, do neo liberalismo, embora em plagas menos expostas à mídia, como a Ruanda.

Notadamente depois da queda do muro de Berlin, perde a esquerda importante referencial, grande baque no marxismo - embora no nosso entender a União Soviética e seu conjunto de satélites tenha sido, com seu centralismo Estatal e estanque burocracia - um dos piores exemplos da aplicação da filosofia de Kar Marx. As não ortodoxas misturas que se vê a esquerda envolvida nos nossos dias sao evidentes, haja vista o PT, aliando-se a PL e PMDB - de idiologia bastante distinta, principalmente o PL.

Não concordo com alguns outros pontos do autor, como quando se afirma que nao se deve creditar à natureza humana o atual estado de coisas, então deveria-se a quem ??

As previsões de Marx nunca foram tao atuais, acaso já se assistiu a tamanha centralização e concentração de capital, a tamanha fetichização da vida, de tudo virar mercadoria, de elas nos controlarem ou ao menos a grande maioria das pessoas ? Da formidável máquina de propaganda, da usura legalizada. Onde ficam as liberdades individuais nesse estado de totalitarismo do capital ?

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A esquerda morreu?
Esquerda, direita. Essas noções já fizeram mais sentido. Estou falando, evidentemente, dos conceitos políticos e não das referências espaciais, as quais, apesar das rápidas transformações por que o mundo vem passando, permanecem relativamente claras.

Explicarei melhor aonde quero chegar. Na semana passada, meu amigo Marcos Augusto Gonçalves, que agora edita a Folha Ilustrada, pautou, co-escreveu e publicou uma interessante reportagem em que falava do surgimento de uma nova direita no Brasil. A crise que atingiu o PT estaria fazendo com que as pessoas perdessem o medo de declarar-se "de direita".

Não entro no debate para afirmar ou negar que estejam ocorrendo mudanças na percepção do balanço de forças das correntes ideológicas nem discuto o mérito das figuras escolhidas para emblematizar a "nova direita", algumas das quais prezo bastante. Meu objetivo é ao mesmo tempo mais simples e mais ambicioso. Pergunto-me se a dicotomia que divide a política em esquerda e direita faz sentido e, em caso, afirmativo, como definir esses conceitos.

Comecemos com um pouco de história. Tudo teve início na França do século 18, quando o rei Luís 16 --aquele mesmo que perderia a cabeça com a Revolução-- se viu obrigado pelas circunstâncias a convocar os Estados Gerais, uma espécie de assembléia nacional ampliada. Provavelmente por acaso, os dois primeiros "estados", isto é, a nobreza e o clero, se sentaram à direita da cadeira reservada ao rei. Ao terceiro estado, a burguesia, restou o lado esquerdo. Como nobres e padres defendiam e apoiavam idéias conservadoras, "direita", por metonímia, passou a designar o grupo dos que se opõem a mudanças políticas; "esquerda", por sua vez, passou a indicar os que são favoráveis a alterações.

Diga-se, "en passant", que essa divisão nunca foi muito "justa" com a direita. Afinal, são muito poucos os que olham para o mundo tal como ele é, com todas as suas injustiças e pequenas e grandes perversidades, e concluem que não há nada a melhorar. Além disso, mesmo aqueles empenhados apenas em manter seus privilégios de classe sempre souberam que era preciso muitas vezes ceder. A essência desse pensamento foi captada na tão magistral quanto surrada fórmula de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, em "O Leopardo": "Se vogliamo che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi. Mi sono spiegato?" ("Se queremos que tudo permaneça como está, é preciso que tudo mude. Fiz-me entender?").

É claro que as coisas se sofisticaram um pouco dos anos 1780 para cá. Depois da profusão de correntes anarquistas e socialistas que surgiram e ganharam ímpeto no século 19, ser "de esquerda" passou quase que automaticamente pertencer a uma delas. Especularmente, todas as linhas de pensamento que não defendiam ou bem a revolução ou a transformação radical da sociedade por meio de mudanças na forma de organização social se viram colocadas no campo da direita.

E as coisas só se complicaram depois da queda do Muro de Berlim, em 1989, e do ocaso da velha União Soviética, em 1991. O marxismo, é evidente, sofreu um tremendo de um baque. A idéia de revolução, se não foi sepultada, foi colocada num gelado gulag, onde permanece até hoje. Órfãos de uma teleologia, militantes da esquerda começaram a refazer seus cálculos políticos, de modo a encontrar aliados para seguir enfrentado aqueles que enxergavam como seus adversários do momento. Surgiram daí misturas improváveis, como a que juntou autoproclamados representantes da esquerda a grupos religiosos ou a tecnófobos antitransgênicos. O resultado é uma baita de uma confusão, pois nesse processo foram sacrificadas algumas das bandeiras tradicionais da esquerda, como o direito ao aborto e a confiança no progresso científico, hoje tomadas como teses "liberais" (pelo menos no Brasil, um outro nome para a direita).

Se quisermos salvar a distinção direita-esquerda, tarefa que se afigura árdua, precisamos antes de mais nada de um fundamento que vá além de banalidades do tipo conservador/progressista ou amigo/inimigo da mudança, que dizem pouco e explicam menos ainda. Acho que a melhor diferenciação já proposta é de teor filosófico, baseando-se no modo como cada lado avalia a noção de natureza humana.

O direitista clássico seria aquele que aposta numa natureza humana imutável e nada bonita. As pessoas têm forte inclinação a ser ruins, e tudo o que se pode fazer é tentar refrear pela força seus apetites naturais, de modo a tornar a convivência pelo menos possível. Leis rígidas e o apego a uma moral severa é só o que nos impede de decair na selvageria. A economia nada mais é do que a tradução em termos monetários e financeiros dos apetites humanos. Tudo o que tenda a alterar as inclinações naturais das pessoas está fadado ao fracasso.

Já para a esquerda, a natureza humana, se existe, seria pelo menos bastante maleável. O homem é o reflexo de seu ambiente, que pode ser alterado segundo projetos racionais. Obras de engenharia social e intervenções do Estado na economia são possíveis e desejáveis, de modo a tornar o mundo um lugar melhor, e as pessoas, mais felizes.

Não vou entrar no mérito das experiências históricas inspiradas por ambas as correntes. Basta dizer que regimes totalitários prosperaram sob as duas --o nazi-fascismo e o comunismo são exemplares-- e o que de mais notável produziram foram pilhas e pilhas de cadáveres.

Alguns vêem nesses e em outros eventos históricos pouco abonadores para nossa espécie a prova insofismável de que a natureza humana é ruim, o que daria razão à direita. De minha parte, que sempre torci para a esquerda _assim como nasci e cresci corintiano, fui educado num lar de esquerda_, acho que precisamos matizar um pouco esse fatalismo.

Não há dúvida de que o homem pode ser profunda e visceralmente mau. Freqüentemente o é, mas nem sempre. É verdade que um miliciano hutu pode mutilar uma criancinha tutsi em Ruanda apenas "por prazer", para ver como ela fica sem seus membros, mas, ao mesmo tempo, encontramos também povos vivendo em relativa harmonia e prosperidade, como os escandinavos hoje. A menos que acreditemos que a diferença nas atitudes sociais entre um sueco e um ruandense seja dada pela genética --e a simples lembrança das barbáries cometidas pelos vikings na Europa ocidental durante a Idade Média prova que não é--, torna-se forçoso concluir que fatores ambientais têm algo a ver com a diferença de comportamento. Ainda que exista uma natureza humana nada apreciável, parece haver também circunstâncias sociais que exacerbam ou contêm nossas piores tendências. Quais são essas condições e como reproduzi-las é uma questão em aberto. De minha parte, custa-me crer que elementos como educação, repartição das riquezas e a sensação de não ser vítima de injustiça não contribuam para evitar situações como a de Ruanda.

Em tempos nos quais tudo é especialmente confuso e conceitos que nos foram familiares como o de direita e esquerda parecem perder o sentido, julgo oportuno tentar resgatá-los, ainda que para defini-los em outros termos. Não será recorrendo à noção de natureza humana que conseguiremos salvar teses ou teorias políticas em particular, mas repensar velhas idéias sob um novo ângulo é um exercício normalmente útil.

Quanto à esquerda, parece-me precipitado decretar sua morte. É claro que praticamente todas as previsões que Marx, os socialistas e os anarquistas fizeram se revelaram grandissíssimos equívocos, mas isso não significa que a humanidade resista todo o tempo aos apelos da razão.

Ao final da Idade do Bronze, um ser humano vivia em média 25 anos. Sucumbia a doenças, predadores e à violência de seus pares. De lá para cá, aprendemos a organizar-nos um pouquinho mais racionalmente e hoje ultrapassamos facilmente as sete décadas de vida em condições algo mais favoráveis. Encontramos meios de moldar a natureza (não sem efeitos colaterais deletérios) e até de curar algumas doenças que nos acompanhavam desde que descemos das árvores. Parece-me prova suficiente de que o homem é capaz de aprender com a observação do meio que o cerca e de oferecer respostas racionais a problemas sociais concretos. Diria até que, ao longo da história da espécie, que se mede na escala das dezenas de milhares de anos, dedicou-se a essa atividade com bastante sucesso. Assim, pelo menos à luz da definição proposta, é cedo para assinar o atestado de óbito da esquerda.
Hélio Schwartsman, 40, é editorialista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve para a Folha Online às quintas.E-mail: helio@folhasp.com.br
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