
Recursos existem, tanto que são jogados fora, ou quase...
O comércio internacional representa o fluxo físico de bens e serviços em nível global, analogamente ao sistema circulatório do corpo humano.
Contudo, diferentemente do equilíbrio e harmonia reinantes no corpo humano, desenvolve-se o comércio internacional sob os imperativos totais dos economicamente mais fortes, sob as bases impostas pelas nações ricas às nações subdesenvolvidas ou às denominadas em vias de desenvolvimento.
O que mais chama a atenção, nesse aspecto, são os imensos paradoxos do discurso liberalizador dos países ricos.
Ideólogos ou baluartes do desenvolvimento através do mercado, tão cada vez mais livre quão (deliberadamente) injusto, não se acanham em praticar as mais arcaicas e predatórias formas de protecionismo ou incentivos às suas exportações, seja de bens, serviços, investimentos e capitais sob diversas modalidades.
Desnecessário faz-se o detalhar de como emergiram tais nações como as atuais potências, mas não podemos deixar de mencionar que um dos seus motores foi inegavelmente um mercantilismo caracterizado por intenso, imenso e virulento protecionismo (principalmente após o colonialismo formal), além de tráfego – legitimado pelo poder militar – de matérias primas para entorpecentes, leia-se papoula / ópio, como a Inglaterra na China e a França na Indochina. Nesse ponto é interessante ressaltar que, na Inglaterra da revolução industrial exportar matéria prima – algodão, sobretudo – sem antes se lhe agregar o devido valor industrial era crime não só inafiançável como punido com a pena capital; Algo totalmente destoante das nossas recém privatizadas, para não se dizer doadas, estatais da mineração, que se contentam em vender minério de ferro para que os ricos produzam bens infinitamente mais valiosos – navios, maquinário, veículos, e nos revendam, sob termos de comércio brutalmente favoráveis a eles.
Um dos fatos que mais chama atenção para a hipocrisia reinante no discurso dos grandes reside na questão dos subsídios agrícolas. Os inacreditáveis USD um trilhão destinado a tais subsídios, praticados pela chamada tríade – EUA, União Européia e Japão – além de provocar profunda distorção no comércio internacional, poderia, se direcionado a fins produtivos com vistas ao bem estar da humanidade – veja-se que não falamos aqui de assistencialismo – simplesmente acabar com a fome do mundo.
Devemos ter em mente, contudo, que o desenvolvimento humano – integral e universal – jamais foi objetivado pelo capitalismo, cuja lógica – a da acumulação como fim em si mesmo, logo um fim irrefletido e obtuso – tem como fundamento básico, para não se dizer o central, a exploração dos países pobres, sob as mais diversas conotações hipócritas, das mais sutis às mais abertamente preconceituosas. O objetivo central do capitalismo é a formação de um sistema no qual tal exploração seja não só sistêmica e estrutural, como seja aceita como a mais natural e justa possível pela massa crescente de pobres, haja vista quão intensamente lutam para que, com os estados fracos incutidos via neoliberalismo, os países pobres invistam cada vez menos em educação e nas denominadas áreas sociais.
O capitalismo não só se delicia, mas produz efetiva e deliberadamente exclusão social, para que possam possuir cada vez mais, para que possam posar em revistas “caras” mundo afora, numa cada vez mais pobre e pseudo-arte inútil;
Em boa hora, de 2003 a 2007 os EUA já jogaram literalmente no lixo, em valores reais, cerca de quase impensáveis USD 2 trilhões de dólares (com T mesmo), mas não devemos ignorar o fato que esse dinheiro retorna, célere, às indústrias patrocinadoras da farra, notadamente as bélicas, que, naturalmente destinam generosas comissões ao governo Yanquee, novo ideólogo do capital totalitário como a símbolo da liberdade. A eternamente defendida liberdade de os fortes se investirem no direito de roubarem, com o uso da força, logo da falta de liberdade, os mais fracos.
Luciano Corsi