Sunday, March 25, 2007

Minha alma ...




"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."

Clarice Lispector

Stalingrado, por Drummond




Stalingrado


Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus seios que estalam e caem
enquanto outros, vingadores, se elevam





A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontra-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.



Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrirmos o jornal pela manhã teu nome (em ouro
[oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu
[a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos
[pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.

Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto
[resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e
[silêncio
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não
[profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues
[sem lutas
aprendem contigo o gesto de fogo,
Também elas podem esperar.

Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.

Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem
[trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços
[negros na parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado

A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços
[sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e
[relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado,
[senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura
[combate,
contra o frio, a fome, à noite, contra a morte a criatura
[combate,
e vence.





As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma
[fumaça subindo do Volga;
Penso no colar das cidades, que se amarão e se defenderão
[contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.

Tuesday, March 20, 2007

Evoluímos ?

Guerra,

Guerra que quase nunca te cogito justa,

Guerra ancestral, primitiva, medieval,
moderna (holocausto)
pós moderna - assassínio da arte e da inteligência ...

quando perpretada pelo mais forte (temporalmente)
contra o mais fraco, ou , melhor, teporalmente débil,
sempre sinaliza em sentido único de
*************** .......... [ nula]
inteligência

Essa guerra aproxima o genêro humano terráqueo
*********** - Oxalá hajam outros -,
da sua origem animalesca,
a ganancia humana, sem limites,
nos indigna do nome humanos

Essa guerra covarde que um tal ente amorfo
sem face , atomizado, desumano
Capital,
declara, é a antítese do humano,
vivifica seus filhos - as mercadorias,
e mata o humano

Isso se reflete em tudo
sobretudo nas artes
quase mortas, quase assassinadas, ou seja,
arte publicitária,nao,
isso nao é arte !

A única guerra que cogito é a de matarmos
interiormente
o gérmem do capital
a incauta
a irrefletida, a demente sede de poder

Luciano Corsi

Voltando com nada menos que Rosa Luxemburgo !



Depois de 3 meses inativo e ainda buscando alguma inspiração, vamos pelo óbvio ...

*****

O socialismo não é, propriamente, um problema de comer com faca e garfo, mas um movimento de cultura, uma grande e poderosa concepção do mundo.

Carta de Rosa Luxemburgo a Franz Mehring (Fevereiro/1916)